Memórias dos trapos

Desde todo o sempre que ouvi na minha casa falar em tecidos. Era prática ver uma peça de roupa e identificar o seu tecido, apreciar a sua qualidade, a sua cor, o padrão e dar opinião se ficava bem ou mal.  Digo na minha casa, porque quer a minha mãe quer o meu pai teciam comentários sobre tecidos. Ambos trabalharam nos trapos, como se diz na gíria deste mercado. Atualmente, se virmos a etiqueta das peças de roupa contam-se pelos dedos duma mão os tecidos que lá estão indicados. Ou é viscose, poliamida, algodão, linho, lã e pouco mais. Lá vão os tempos em que os profissionais dos trapos distinguiam os vários tecidos.
Nas minhas férias escolares, como qualquer criança, passava alguns dias no trabalho dos pais, e ajudava aqui e ali. Mais tarde, quando terminei o secundário, tive oportunidade de trabalhar com o meu pai numa loja que já não era a sua.
Guardo memória da forma incrível que a minha mãe atendia o público, de haver clientes só quererem ser atendidas por ela, dava gosto ver a paciência e a simpatia, para não falar do conhecimento de todos os produtos que vendia. Do meu pai, recordo o rigor na dobragem da roupa e na apresentação das prateleiras impecáveis, da boa disposição sempre presente e uma memória invejável sobre todo o negócio.
Há uns tempos atrás, numa noite atacada pela insónia, veio-me à cabeça esta constatação sobre os tecidos e desta vivência dos meus pais que me foi passada naturalmente. Uns dias depois, debaixo de um chapéu de sol, numa das nossas praias preferidas, com a ajuda da minha mãe, fui registando uma lista com os nomes dos tecidos que me fui lembrando e outros que a minha mãe conheceu e que já não se fabricam.
Foi assim que nasceu esta composição que emoldurei e pendurei numa parede para registar estas memórias dos trapos, que não são só minhas…
 

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